Tu e minhas lentes


Eu poderia escrever sobre nossos momentos preferidos por mim citando a forma como eu amo quando meus cabelos ficam enrolados nos teus dedos, ou como só você consegue me deixar arrepiada com um beijo no rosto. Poderia falar da maneira que você me deixa quando morde minha orelha e sussurra algo, ou até a forma que me aperta contra teu corpo.
Eu posso falar também das coisas que causo em você. Tipo o barulho que você faz quando mordo seu pescoço e você tenta controlar o arrepio, mas que acaba me puxando pra mais perto, como se temesse que eu parasse com isso. De como você fica lindo quando fecha os olhos enquanto eu passo as unhas de leve sobre tua barriga. A tua cara de quem não vai aguentar por muito tempo se manter longe de mim quando eu respiro fundo no teu ouvido.
Na verdade, posso citar até a visão de terceiros sobre esses nossos momentos. Eles dizem que a gente muda a expressão quando nos encostamos, que todos percebem quando a gente quer se beijar. E eles sempre acertam, percebem até antes de nós. Mas quero mesmo é falar de outra coisa.
Eu quero escrever sobre esses nossos momentos falando do meu óculos. Sim, sobre ele. Ou melhor, sobre como ficam as lentes quando a gente tá junto. Eu não sei se é meu rosto que esquenta, o seu, talvez o nosso, mas elas sempre embaçam. Elas não ficam assim quando falamos apenas oi, ou quando apenas nos abraçamos. Mas basta a gente se olhar diferente que isso acontece. E às vezes acontece quando chego em casa, como se perder o contato bom contigo fizessem elas perderem o foco. Mas também acontece quando a gente tá junto, parece que ela é o tipo de verificador que indica que tivemos algo bom, especial, durante os minutos que ficamos juntos.
Eu amo ter você embaçando minhas lentes.
Eu quero ter você embaçando minhas lentes por mais tempo.
Eu quero que esse tempo dure mais do que sei que vai durar.
Quero meus cabelos enrolados em ti, minha pele arrepiada com um simples gesto, eu entregue a você quando você encosta em mim. Quero mais abraços colados, mais apertões pra que o abraço fique ainda mais apertado, você sem conseguir evitar se arrepiar, tu entregues, de olhos fechados e sorriso de lábios colados quando percebe que não vai se controlar.
E eu quero, além de tudo, minhas lentes embaçadas. Porque elas embaçam ao ler a gente, ao saber o que gente sente, ao perceber que a gente gosta de se amar.

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