Sobre os medos



Alguns anos atrás, enquanto viajava com uma turma de pessoas que eu me perguntava como havia parado alí, lembro de ter visto uma pichação que dizia: “o que é pior, o medo ou a incerteza?” Se a viagem até aquele momento não tinha mexido nada comigo, aquela frase tinha me tocado de forma que cheguei em casa com a sensação de que tinha valido a pena.
Sempre fui – e talvez nunca deixe de ser – muito cautelosa. Minha infância e adolescência foram marcadas por amigas que diziam que eu era chata demais por sempre puxá-las de volta a terra quando alguma delas resolvia viajar na maionese. Sou a garota que pesa os prós e os contras e acaba até dando um peso maior ou segundo. Quase nunca tomo decisões precipitadas, não arrisco quando tenho muito em jogo. Mas já faz alguns dias que ando meu perguntando: isso tudo é cuidado ou medo?
Quantas vezes a gente não chama de cautela o que no fundo a gente sabe que é medo? Quantas vezes não negamos, até pra nós mesmos, que queríamos sim fazer tal coisa, mas somos medrosos demais pra isso? Sabe, eu me perguntei essas coisas e vi que havia sim cuidado, mas também havia muito medo. Houve coisas e ainda há coisas que não vivi e não vivo por medo. E tantas delas eu gostaria e ainda tenho desejo de fazer.
A melhor forma de encerrar um assunto é dando um closure – algo como encerramento em português- a esse assunto. Você se sente livre, limpa, pronta para outro começo. Não há nada que pese mais do que um “e se”. E a incerteza é isso: uma soma de e se’s que nunca terminam, afinal, uma atitude leva a outra. Eu tenho minha cota de incertezas, muitas dessas pesadas demais nos dias ruins. Algumas que eu daria tudo pra poder voltar no tempo e ter vivido, me jogado de cabeça, por mais que o medo fizesse aquilo parecer grande demais. Essas a gente não esquece nem nos dias bons, porque muitas coisas as lembram, e aí vem a vontade e a saudade de algo que nem se viveu.
Medo não é de todo ruim. Ele às vezes faz bem, te deixa realmente mais cuidadoso. Mas temer apesar de toda vontade e das grandes oportunidades é terrível. Suas escolhas realmente definem quem você é, quando se toma um caminho automaticamente abre-se mão de outro. Do que você vem abrindo mão por falta de coragem?
Que nesse ano a gente possa se abrir para as oportunidades que virão, que se der, a gente repare as decisões de antes e viva o que não vivemos. Que o medo nos torne observador, mas não nos congele. Nesse novo ciclo só desejo que possamos vencer o medo e sair da inércia que impusemos a nós mesmos, porque o mundo é grande, a vida é longa e as experiências que vivemos é que fazem tudo valer a pena.

0 comentários:

Postar um comentário