O que aprendi deixando de morar com meus pais



Antes dos meus dezoito anos, eu sonhava que esse dia chegasse porque tinha colocado na cabeça que ter o dígito 1 junto ao dígito 8 na idade faria minha vida mudar para sempre. Ela não mudou. Eu não deixei de precisar dos meus pais, eu não sai por ai fazendo várias coisas loucas, eu não deixei de ter que chegar na hora que minha mãe e eu combinamos. Nada havia mudado. A maior idade não mudou a forma como minha vida andava e também não mudou meus gostos e o que eu pensava. Na verdade, eu era a mesma menina de sempre, menina essa que era agarrada a mãe e que ninguém dizia que seria capaz de se virar sozinha. Mas aí, alguns anos depois, eu saí de casa.
Não faz muito tempo que deixei de morar com minha família, embora essa mudança tenha mexido tanto em mim que há dias em que sinto como se já tivesse se passado anos. Sair da casa dos pais faz isso com você, te vira de ponta cabeça e faz contigo uma espécie de plano JK ainda mais rápido, te fazendo amadurecer anos, mas em poucos dias.
Abusando ainda mais das analogias, sinto que sair da casa dos pais é algo semelhante ao pássaro que sai do seu ninho e é posto pra voar mesmo que ele ache que não esteja tão pronto assim. Me mudei com todo mundo, inclusive eu, duvidando da minha capacidade de voar sem algum familiar por perto. E eu senti medo. Eu sinto medo. Talvez eu nunca deixe de sentir medo.
Medo. Acho que isso resume a mudança. Você tem medo de tocar fogo na casa porque nunca foi a melhor cozinheira. De que o dinheiro - agora administrado apenas por você - não chegue até o fim do mês.  Você tem medo de sentir medo porque não tem ninguém pra te dar a mão. Teme mudar. Você tem medo de deixar de ser você.
Eu me mudei e passei a morar com outras duas pessoas que eu não conhecia. A gente nasce e cresce tendo nossa vida moldada pela vida dos nossos pais. Os valores deles quase sempre são os nossos, assim como os gostos e personalidade. Daí você sai da casa deles e começa a conviver diariamente com outras que tiveram uma criação totalmente diferente da sua. E isso te muda. Você sai da sua bolha e começa a se misturar vendo algumas coisas nunca vista. Com toda certeza isso te muda.
Mas tem mais coisas que isso.
Sair da casa dos pais é às vezes olhar para as paredes da sua nova casa e não reconhecer nada, acordar no meio da noite procurando pela tomada que já não fica no mesmo lugar que antes. É ter um dia ruim e pensar que precisa conversar com sua mãe, e ficar triste ao lembrar que ela não vai estar em casa te esperando. Mudar de casa é bem ruim alguns dias. Você pode ter planejado isso várias vezes, mas só quando passar por essa situação é que você vai entender. Afinal, são mudanças que você passa sozinho, do seu jeitinho. E embora seja difícil, eu também digo que é libertador.
Por mais doloroso que seja no início e nos dias difíceis da vida, morar sem seus pais te liberta pra que você faça coisas certas e quebre muito a cara fazendo as erradas. Longe da sua primeira casa você finalmente entende os conselhos dos pais, e mesmo com o coração em pedaços e com os olhos cheios de lágrimas, você entende que certas coisas são necessárias. Agora sim você entende porque não fazer aquilo.
Sair da casa dos pais, morar sozinho ou com pessoas fora do teu convívio é difícil, é cheio de saudade e algumas vezes solitários. Mas sair de casa é por vezes engraçado, um amadurecimento por mil vezes multiplicado, morar sozinho é ter teu horizonte ampliado.

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