Esses dias eu vi uma moça, moça
bonita, com cara de quem sabe, de quem é, mas ela não me pareceu saber nada
disso. É que a gente tem muito disso, não é? Sabe tanto de tudo e da gente não
sabemos nada. Essa moça era assim.
Tive vontade de descer do ônibus - no sentido mais
figurado possível - e dizer para aquela moça andar mais imponente, se despir de
tudo, ficar de alma nua e mostrar o que sente. Tive vontade de gritar pra vida
parar um pouco, só pra ela ter a chance de viver o que ela ainda não sabe que é
capaz. Eu não senti pena dela, nem de longe ela merece isso, mas senti um certo
desespero pra que ela soubesse fazer, correr, viver!
Aquela moça chamou atenção de mais gente, mas
suspeito que muitos concluíram tudo errado, assim como ela mesma não sabe sobre
si. Vi gente olhar torto, se irritar, parecendo não compreender que ela não
fazia por querer, tudo era consequência daquele medo preso de viver.
Quis perguntar das dores da vida dela, mas ela não
parecia disposta a falar, quis dizer pra ela que todo mundo tem seus medos,
segredos, fantasmas, isso não era motivo pra ela parar ali, estacionar. Ah, eu
quis tanta coisa. Quis dizer pra ela a experiência de outra moça, talvez da
mesma idade da dela, que percebeu antes uma coisa que até hoje ela não
percebeu: viver requer riscos, moça. Viver requer querer. Viver requer viver.
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