Você me manda uma mensagem às duas da tarde querendo saber se tá
tudo bem. E antes de te enviar alguma coisa de volta, eu olho pro celular e me
pergunto, duas, três, trinta vezes, se você quer mesmo saber a resposta. Ainda
que eu acredite, no fundo, que você sabe tanto quanto eu que não, não tá.
Porque a gente sabe que acabou.
A gente sabe que acabou quando evita voltar pra casa
depois de um dia inteiro de trabalho. Como é que eu vou te encarar com tudo
isso preso na garganta? Então eu chego aos trapos e torço pra me jogar na cama
sem você me perguntar como foi meu dia. Porque eu tenho medo do fim de nós dois
escapar da ponta da minha língua ou de você, de repente, resolver que já deu. E
a gente fica assim, num jogo de gato e rato, fugindo do término que o outro já
encontrou. Porque a gente sabe que acabou. A gente só não admite.
Nas segundas, nas terças, principalmente nos domingos.
O adeus tá sempre ali, a uma esquina de nós dois, na rua em que a gente faz de
tudo pra não virar. E eu sinto que eu fico tentando me agarrar a você como se
eu ainda pudesse, de algum jeito, de qualquer jeito, salvar o que a gente
tinha. Se eu fizer um pouquinho de esforço, será que volta? Será que a gente se
coloca nos eixos?
Mas a gente sabe. No rolê com os amigos quando a gente repara que
não consegue mais concordar em nada. E fica todo mundo ali, nos olhando com um
pouco de pena e uma dose de paciência, se questionando que tipo de casal nós
vamos ser. Nós vamos ser daquelas pessoas que ficam juntas por comodismo e
acabam se odiando ou nós vamos pular do barco antes que seja tarde demais? Será
que a gente vai se amar o suficiente pra saber ir embora?
E enquanto a gente não vai, a gente tenta fingir pra
si e pra todo mundo que continua igual. Mas eles sabem. Os nossos amigos, a
minha irmã, o nosso vizinho e o porteiro. Até sua mãe sabe. Ela soube no seu
último aniversário, no meio do parabéns, quando eu te olhava assustada ao me
dar conta que eu só queria que acabasse. Tudo aquilo, entende? Ela me olhou por
uns cinco ou seis segundos, eu acho, e soube. Porque alguma coisa em mim já
tinha se apagado e eu podia tentar disfarçar com sorrisos e palmas e presentes,
mas não tava mais ali. Aquele amor todo, lembra? Eu não encontrava mais em
lugar nenhum.
Eu precisei de um pouquinho mais de tempo do que ela
pra reparar que alguma coisa tinha se apagado em você também.
E talvez a gente ainda fique mais um tempo insistindo,
porque quem ama sempre insiste, não é? E mais cinquenta mensagens, e mais
alguns aniversários, e todo mundo sabendo que alguma coisa mudou, até a gente
perceber. Alguns amores acabam e nem por isso deixam de ser amor. E sejamos
sinceros: o nosso amor acabou.
* Texto de Karine Rosa. Dona do Blog isso não é um diário ,colaboradora do DDQ , em do ETC , Karine fala como poucos de amor. De uma maneira invejável ela coloca em texto o que quase todas as garotas sentem ou pensam. Se não a conhece, corra logo pra o seu blog, que a pior coisa que pode te acontecer é você amar tanto os textos dela que não vai conseguir fechar a janela rsrs.
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