Deixa eu te contar


Queria começar te pedindo desculpa pelos meus medos e meus traumas. Ou meus traumas e medos, acho que essa ordem faz mais sentido. Cada briga e cada traição que vi no passado me deixaram amedrontada demais para embarcar rapidamente em relacionamentos. Desculpe-me por ser esse poço de traumas e medos que você sem saber se apaixonou.
Também quero te dizer que perdoou seu poço. Esse que é cheio de medos e traumas também, e que parece ainda mais fundo que o meu. Desculpo seus entraves, suas desculpas em momentos errados e suas recuadas que me deixam confusa e incapaz de confiar de verdade. Não te culpo porque sei como é ser algo assim, te desculpo porque vejo em ti muito de mim. E eu sei como é ruim.
Perdão por todas as falas sarcásticas, respostas atravessadas e conclusões precipitadas que te tiram do sério. Por todas as vezes que meu humor ácido – que nada mais é que uma forma de proteger – te jogou pra longe e deu a entender que não queria que você voltasse. É piegas dizer, mas a verdade é que nada disso é por querer. Sinto medo de me perder em ti, ou que você se perca de mim. Perdoe-me por também ter muita acidez nesse poço.
E eu te desculpo por seu jeito impaciente e por todas as vezes que até hoje você não me ouviu por ter dificuldade de perder a razão, como se tivesse que se agarrar em algo. Pelas vezes que mascarou a importância das coisas, tratando-as com indiferença. Mesmo que algumas dessas coisas tenham sido minhas palavras. Te desculpo porque também sei o que reagir de forma bruta ao medo. Tentar se enganar nessas horas e dizer que não teme é tudo que desejo. Falo isso porque essa sensação eu conheço.
Tenta relevar as vezes que tentei te afastar, pelos planos mirabolantes que já fiz na minha cabeça e que graças a Deus a maioria nem executei. Por todas as vezes que te falei que aquelas pessoas eram melhores pra você, como se eu pudesse decidir sua vida. Pelos ditos e não ditos, aqueles que te tiravam da minha vida ou me expulsavam da sua. Se der, releve mais esse balde de água que tem no meu poço.
E eu sei que isso tá parecendo uma troca, mas não é. Só que eu queria te falar que também desculpo as vezes que você me afastou. As vezes que calou e preferiu guardar pra si todos os seus problemas, mesmo que esses problemas estivessem te levando pra longe de mim. Cada um com seus motivos, a gente já foi e já deixou o outro longe. Eu nem posso e nem devo te culpar por muitas vezes achar que longe faria melhor a mim, eu penso muitas vezes o mesmo sobre ti.
Mas a prova que isso não é uma troca, te falo aqui, nesse parágrafo. Eu ainda não consigo te desculpar totalmente por não se decidir. Por todas as vezes nesse tempo todo que você arrumou algo para colocar entre a gente e não decidiu qual das coisas era mais importante. Por tudo que já pesou mais que nós, por mais que você não assuma. Pelas palavras não ditas que quase fizeram a gente se perder totalmente, e pelas ditas quando você não tinha certeza. Já tentei, mas ainda não sei se te perdoou por nunca ter me feito primeira em algo na sua vida. Por jamais querer escolher e por sempre querer segurar todas as coisas, mesmo sabendo que isso é impossível. Queria, mas não sei se te desculpo por me colocar na sua estante, mesmo que involuntariamente. Te desculpo, relevo e perdoou um monte de coisa, mas não esse tipo de indecisão.
Todo esse texto é pra dizer que te entendo, que te aceito e que te amo. Mas pra contar que nem o amor cobre tudo, ainda mais se você escolhe deixa-lo guardado, recorrendo quando acha que deve, mas quase sempre guardando-o de enfeito na sua estante.

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